Fosse magricela e feia,
Mas era uma sereia
De corpo espetacular”
“Para se fazer omeletes é preciso quebrar ovos” dissera o
representante do governo em audiência pública realizada o dia
06/09/2012 a respeito do projeto de devastação do pouco que nos
restou da mata nativa da cidade de Natal. Bastou esse discurso
medíocre que o Estado tinha a dar para os potiguares ali
presentes para que uma preocupação invadisse minha mente.
As elites estão mais uma vez famintas, ou melhor, parece-me que
elas nunca se saciaram, e pior, omeletes nunca foram suficientes
para acalmar essa fome devastadora. No passado, em nome da fome
das elites, nações indígenas foram massacradas e dizimadas,
negros e negras foram sequestrados de suas terras e obrigados a
trabalhar para sustentar aquela elite faminta; para alimentá-la,
as nossas matas foram derrubadas e nossas terras usurpadas. Por
conta da fome da nossa (e de outras) elite, lutadores e
lutadoras do povo foram mortos e chamados de vilões.
E ainda instigados pela gula, elas expulsam os pobres de suas
casas, massacram a população negra nas periferias, sucateiam os
serviços públicos. É em nome dessa fome maléfica, e para que
elas continuem comendo, que se constroem estádios e aeroportos
além da capacidade local, que se aumenta passagem de ônibus e
que se reprimem movimentos sociais.
Falta ao governo perceber que não são apenas elas que tem fome.
Nós, moradores e moradoras da cidade de Natal também sentimos
fome. E a nossa fome vai além de carros, concretos e dinheiro;
Muito mais além de futebol, estádio e aeroportos. O que
realmente nos incomoda é o sistema público de saúde, que, no
lugar de curar, faz vítimas diariamente, o salário baixíssimo
dos professores em nossa rede pública, o sucateamento do
transporte público, a violação de Direitos Humanos a que muitos
potiguares são submetidos no campo, em presídios e na nossa
periferia. Nossa fome é por democracia, por concretização de
direitos, por alimentos, por participação popular, por um meio-
ambiente saudável.
E agora o governo do Estado do Rio Grande do Norte quer gastar R$
200 milhões em uma omelete, não contente com o preço exorbitante
do projeto, quer usar como tempero 35.048,43 m² de mata
atlântica. Ficou claro a todos os presentes naquela audiência
pública que o projeto da Roberto Freire é mais uma iguaria para
alimentar as nossas elites (e outras) gulosas e que o governo
não deixou de cozinhar para ela.
No entanto, agora nós sabemos que temos fome e identificamos bem
a causa dela. Nós homens e mulheres cansados de alimentar essas
gordas elites não deixaremos que nossos ovos sejam quebrados. A
gula de vocês não devorará mais nossos pobres nem nosso verde.
Porque nós, os famintos, já sabemos bem a cara que a fome tem.
* Magnus Henry - Militante do Levante Popular da Juventude RN
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