O gigante nunca
adormeceu
Assinam: Carlos Marighella, Aurora Maria, Maria
Laly, Mailde Pinto, Juliano de Siqueira, revolucionárixs do Levante de 35,
Clara Camarão, Hélio Vasconcelos, Frei Tito, Pagú, Antônio Conselheiro, Zumbi,
Dandara...
Natal e o Brasil estão presenciando
um momento de virada. Não, camaradas, nunca dormimos, a história de nosso país
foi marcada por muita luta entre xs exploradxs e os opressores, muito sangue
foi derramado até aqui, companheirxs do campo foram assassinadxs por ousarem
reivindicar uma melhor distribuição de terra, negrxs foram torturadxs e mortxs
justamente por serem negrxs e muitos militantes de esquerda foram presos. Não,
camaradas, isso não foi só em 64 e nos anos produzidos por ele, mesmo após a
implantação de um regime “democrático” as atrocidades totalitárias persistiram
atormentando aquele que se insurgia contra uma ordem exploradora.
Não, camaradas, não chegamos até
aqui na calmaria de quem veleja, mas sim através de muita tempestade, em cada paralelepípedo
das ruas que homenageiam torturadores, na terra de cada latifundiário, no chão
de cada fábrica há muito sangue e suor de negrxs, índios, operárixs,
camponeses, homens e mulheres que foram exploradxs até dizer não, e nosso hino,
camaradas, é o grito das mulheres estupradas nos porões do DOI-CODI, o choro
das crianças separadas de seus país, os soluços das famílias destruídas, os
gritos de dor dxs torturadxs em regimes ditatoriais e democráticos. Nosso canto
nunca se calou, nós nunca nos deitamos em berço esplêndido, estivemos sempre de
pé, insones, esperando uma aurora rubra.
E mais uma vez uma multidão sai às
ruas trazendo no peito muita indignação, muitos gritos contidos, muitos sambas
no escuro. Não, camaradas, a juventude não está calada e nem permanecerá.
Inaugura-se no Brasil e em Natal novos ventos, novos ares. E esses ventos
trazem mudanças de trajetos. Estamos sendo protagonistas de um processo ainda
incerto, nossos ventos ainda são sem direcionamento, mas claramente traz
consigo uma chama renovadora. Todos os atos realizados
nacionalmente trazem a indignação e a energia de uma juventude silenciada pelas
políticas de governos azulados, que finalmente conseguiram explodir nas ruas,
vielas e becos dos centros urbanos, como um clamor por transformações, mas em
que sentido? É preciso que nós, protagonistas de nosso tempo, estejamos atentos
para identificarmos nossos reais inimigos, nossos principais algozes que se
escondem nas asas do judiciário, do legislativo e do executivo, precisamos
direcionar nossas energias, nossos braços transformadores, nossos gritos
inconformados, para um sentido contra históricos exploradorxs do povo
brasileiro.
No entanto, camaradas, o alerta está
dado, os setores conservadores submissos ao velho sentimento colonial e donos
dos principais meios de comunicação não podem nem querem deixar tanta energia,
tanta indignação tomar um direcionamento realmente popular, de fato
transformador, por isso, camaradas, implantam pautas que nos distanciam do
debate central, da análise sobre as raízes de nosso problema, que de forma
alguma é corrupção, que de forma alguma é a existência de bandeiras, de forma
alguma é a pluralidade. Não, camaradas, nossa luta não é por moral, é por
direitos. Não é por centavos, é pela política pública mal aplicada, pela
educação sucateada, pela periferia assassinada. Estamos na rua porque queremos,
estamos na rua porque ela é nossa, estamos na rua juntxs porque ela sempre foi
nossa, e permanecemos acordados ombro a ombro face a face, segurando nossas
bandeiras, cantando os nossos hinos de luta, de rebeldia, gritando e soprando
ares de mudança.
Nós, brasileiros e brasileiras,
latino-americanxs, exploradxs, estorquidxs, ocupamos o lugar que é nosso por
direito, e não nos contentaremos com redução de tarifas de ônibus porque isso
não nos basta, queremos um projeto de nação que privilegie seu povo, lutamos
pelo projeto popular. Estamos na rua para lembrar o sangue derramado ao longo
de nossa história e para mostrar que essa sociedade carcomida está grávida de outra
sociedade completamente diferente, completamente nova, sem exploração, sem cura
gay, sem opressão de classe, cor nem de gênero.
E
por isso bradamos:
Juventude
que ousa lutar…
Constrói
o pode popular…
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