“Quando seu moço nasceu meu rebento
não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando não sei lhe explicar
fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
que chegava lá
Olha aí, Olha aí
Olha aí ai o meu guri olha aí...”
não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando não sei lhe explicar
fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
que chegava lá
Olha aí, Olha aí
Olha aí ai o meu guri olha aí...”
Elza Soares
Não é do nada
que se morre. O boy mora na periferia, é preto e pobre. Morreu! O boy usa aba
reta, bermuda folgada e a camisa também. Foi assassinado! O boy tem 16 anos,
estuda, quer se divertir! O boy é um jovem. Começou a ver as contradições que o
rodeavam, começou a ir aos atos, queria passe livre como qualquer outro que não
tem como andar pela cidade livremente. O boy tornou-se mais um na estatística
que diariamente cresce.
A cada 10
minutos um jovem é morto no Brasil, em sua maioria, negros e pobres. Até quando
vamos ver sonhos roubados? Sonhos pisoteados? Jovens torturados? Era Pablo ou
era Douglas? Era Douglas ou era Pablo? A diferença no instrumento que os
mataram, não os tiraram a única certeza: Assim como Douglas, Plablo sem saber o
porquê, morreu.
Aaah, mas ele era da Zona Norte de Natal, era preto e era pobre, não bastava 16 anos de uma vida violada, violentada, Pablo-Douglas, Douglas-Pablo precisava morrer. Para eles, quando a morte chega não faz diferença às tantas “faltas” que suas vidas tinham: o acesso à melhor escola para passar no ENEM, cultura gratuita, sim! Gratuita para não ter que escolher entre pagar a entrada da festa ou pagar a passagem. Pagar a passagem? Mas e ônibus? Aahh, fica na rua até o sol raiar a esperar o primeiro ônibus passar.
Aaah, mas ele era da Zona Norte de Natal, era preto e era pobre, não bastava 16 anos de uma vida violada, violentada, Pablo-Douglas, Douglas-Pablo precisava morrer. Para eles, quando a morte chega não faz diferença às tantas “faltas” que suas vidas tinham: o acesso à melhor escola para passar no ENEM, cultura gratuita, sim! Gratuita para não ter que escolher entre pagar a entrada da festa ou pagar a passagem. Pagar a passagem? Mas e ônibus? Aahh, fica na rua até o sol raiar a esperar o primeiro ônibus passar.
Pablo morreu de morte matada. Quem o matou?
Mais uma vez na vida para Pablo lhe faltou resposta. O jovem da periferia morreu de
tantas faltas, falta de política pública! Aos Pablos e Douglas do Brasil muitas
respostas lhe faltaram. Assim, à eles muitas respostas são dívidas, dívidas que
foram vidas. Quem vai pagar? O Estado que deve é o mesmo que criminaliza, é
o mesmo que mata, mata de tanta falta.
Pablos e
Douglas foram só mais um caso... “caso de polícia!” Olha lá o “Patrulha da
cidade!”, vai lucrar com essa notícia. Não basta lucrar, é preciso ser
sensacionalista! O jovem, “bandido”, “vagabundo, “vândalo” morreu, tinha 16
anos, mas podia ter 13... solução? Redução da maioridade penal? Não! Mais uma
vez Estado? Tanta coisa pra reduzir, que tal começar com o número de jovens que
estão morrendo no país? Que tal iniciar desmilitarizando a polícia? À Douglas e
Pablos lhe restaram dívidas. À tantos outros jovens, uma única certeza: A
juventude quer viver
Floriza Soares e Mara Farias
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